25 janeiro 2015 arquivado em: Blog ilustrasunday
Eu acredito que, quando você desenha, tá colocando pra fora (mesmo que sem perceber) alguma coisa que ficou internalizada, arraigada no subconsciente de alguma forma. A ilustração de hoje é muito mais autobiográfica do que a maioria que passa por aqui, e foi uma maneira de colocar pra fora uma tempestade de coisas ruins que tenho ouvido outras pessoas falarem sobre mim nos últimos anos. Essa é uma ilustração sobre o peso que as palavras e as pessoas têm sobre a gente.

Eu nunca fui muito de falar abertamente pros outros sobre o que sinto – sempre fui uma pessoa esponjinha, daquelas que absorvem tudo ao entorno, até ficarem bem inchadas e pesadas do tanto que absorveram. Com o passar dos anos, fui encontrando válvulas de escape pra canalizar todas essas coisas absorvidas: fazendo atividades físicas, tocando violão… Mas a que sempre melhor funcionou foi desenhar
No processo dessa ilustração em especial, eu passei por várias sensações: eu senti raiva, senti tristeza, senti culpa, senti indignação, senti injustiça, me senti desimportante. Como se estivesse entrado em um carrinho de montanha russa e tivesse mantido os olhos abertos até o final, eu fui lembrando de todas as vezes que ouvi essa palavra direcionada a mim, de todas as vezes que soube que eram isso que estavam pensando sobre mim.
E depois fui me sentindo livre, porque sabia que todos esses pensamentos ruins estavam saindo de mim de alguma forma. De alguma forma, olhar aquela palavra por horas, e repeti-la mentalmente toda vez que meu olhar batia nela, fez com que tudo isso saísse de mim. De repente, eu não me sinto mais estranha. Weird.


É claro que não é simples assim: desenhar, e pronto. Meu comportamento foi “estranho” por muito tempo (e ainda é!), e até aqui já foram discussões (umas mais agressivas que outras), brigas, atitudes infantis de quem eu julgava ter maturidade, descasos, cobranças e expectativas sem fundamento, e por aí vai. Mas encarar isso é libertador. É como encarar um medo. É uma mistura de coragem e de atrevimento.

Acredito que tudo isso faz parte do processo de autoconhecimento, de você se perceber enquanto ser humano, enquanto sujeito ativo, protagonista da sua vida. Eu não me sinto estranha – eu me sinto impotente, me sinto no mais das vezes em segundo plano nos ambientes em que eu não deveria ser, sentir. Sinto algo que foi imposto lá no começo, na infância: agir da maneira que esperavam. Em caso contrário… repreensão.


Nessa dinâmica quase adolescente, tenho me percebido diferente: pensado diferente, agido diferente, discordando e questionando tudo o que me foi imposto como “certo”. E esse tipo de comportamento, no mais das vezes, é causador de repulsa. Falta compreensão, falta humildade para reconhecer os erros. Pedir desculpas é quase uma sentença de morte. É mais importante estar certa do que ter argumentos sólidos e desenvolver um diálogo saudável. As consequências disso vêm como uma chuva de estilhaços de vidro em mim.


Eu nunca tive muita certeza de quem eu sou, de quem eu quero ser, e acho isso normal – a gente tá sempre em processo de (re)construção, mesmo. O meu problema sempre foi absorver demais todas as palavras, todos os olhares revirados, todas as reações negativas como algo ruim, e levar a culpa por “ser” tudo isso. E hoje em dia, na minha meta diária de ser uma pessoa melhor, percebo que eu não sou esse monstro que pintaram de mim. Não é arrogância. É um despertar, um abrir de olhos.
Tudo isso está nos olhos de quem vê. Que culpa eu poderia ter?
***
Para não perder o costume, os materiais que utilizei nessa ilustração foram papel Canson Torchon 270g/m², aquarelas Pentel, Ecoline dourada, caneta Tombow e marcadores brancos.
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amaram

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