Oi, pessoas! Depois de ter feito uma das ilustrações mais desafiadoras dos últimos tempos, senti muita vontade de compartilhar com vocês o meu processo de criação dessa ilustração encomendada. Ao escrever esse post, pensei nas pessoas que estão começando a trabalhar com encomendas de suas artes agora, e também naqueles profissionais que não se sentem satisfeitos com os resultados finais de seus projetos encomendados. A gente sabe que tem uma diferença grande entre fazer um trabalho por vontade própria, e outro sob as exigências de uma outra pessoa, né?
Quando trabalhamos sob encomenda, temos de estar abertos às ideias e referências do cliente, e pôr em prática uma das funções mais bonitas do ilustrador: traduzir o que está apenas no plano das ideias para elementos de linguagem visual. Ser uma ponte entre o cliente e o expectador. Para isso, existem uma série de etapas possíveis que você pode seguir, desde a recepção do briefing até a finalização do projeto; aqui, elenco os passos que segui especificamente no projeto da Patrícia (uma espécie de estudo de caso), que você pode conferir na íntegra lá no portfolio 🙂
A coisa mais importante é você entender, de fato, do que se trata a ilustração: quem é o público, qual a utilização, a finalidade, que sentimentos devem estar representados, etc etc. Isso geralmente se dá através de um briefing enviado pelo cliente. A encomenda da Patrícia envolvia a criação de três quadros que contassem uma historinha sobre a sua família e o nascimento do Matias, o primeiro filho do casal. A ideia era inserir as personagens em um contexto lúdico, com cores pastel (as ilustrações seriam penduradas no quarto do recém-nascido), ambientadas na temática das bicicletas.
Ao compreender a temática da ilustração, tratei de pesquisar os mais diversos tipos de bicicletas, incluindo seus adereços como cestinhas e acessórios de proteção; além da pesquisa imagética sobre a bicicleta em si, procurei por perfis de ciclistas urbanos pra conseguir um repertório de roupas apropriado e harmonioso com o restante da ilustração.
A encomenda da Patrícia envolvia dois tópicos bem difíceis de desenhar, pra mim: a bicicleta, em si, que nunca tive muita paciência pra aprender – e aí foram dias de estudos de proporções; e em um quadro específico, as personagens em uma cena de beijo. No estilo fofinho, até então não tinha representado pessoas se beijando, e precisei fazer vários estudos até encontrar uma solução que combinasse com o estilo do meu desenho. Acima, duas das páginas de estudos de bicicletas e seus detalhes; aqui embaixo, vocês podem dar uma olhada na página inteira de sketchbook que dediquei a isso, incluindo os erros e acertos. 🙂
Estando segura da construção dos personagens e dos elementos que iriam compor os quadros, passei para a etapa de layout, que basicamente consiste em estruturar um esboço da ilustração, para que sejam estabelecidos a composição, os espaços e proporções entre cada elemento dentro da folha. Gosto de fazer esses esboços bem livres, geralmente usando caneta esferográfica ou lápis colorido em papéis comuns, mesmo.
Gosto de fazer esses layouts para estudar bem todas as possibilidades e escolher a minha favorita, e isso também me ajuda na próxima fase, servindo como uma espécie de guia para eu desenhar dentro daqueles padrões já escolhidos.
Com os layouts definidos, agora é hora passar o desenho final pro papel, à lápis, pronto para ser apresentado para o cliente. Em alguns quadros, eu precisei desenhar alguns elementos separadamente, recortar e colar manualmente, e fazer a edição no Photoshop! É gambiarra que chama, né?
Esses foram os lápis aprovados pela Patrícia:
Com todas as cores preparadas, vem a parte mais gostosa: colorir! 🙂
Uma coisa que sempre faço são os testes de cor: em um papelzinho de rascunho, testo todas as cores antes de passar pra ilustração finalizada; no caso desse projeto em específico, onde temos a repetição de personagens e precisamos de uma paleta de cores consistente, eu fiz cada cor separadamente em uma cavidadezinha do godê, e tratei de colorir as três peças no mesmo dia, para não perder a propriedade das cores feitas.
Uma coisa importante é que eu só consegui realizar todas essas etapas com calma porque combinei um prazo bem mais demorado que o de costume com a Patrícia (brigada, Patrícia!). Em projetos de prazo mais apertado, eu acabo acelerando e/ou pulando algumas dessas partes do processo. Sempre que possível, estabeleça um prazo honesto onde você possa trabalhar com calma e entregar o projeto em tempo hábil.
Você não precisa seguir, obrigatoriamente, todas essas etapas – com o tempo, vai descobrir o que funciona melhor de acordo com cada encomenda.
Espero que esse post possa servir como um guia pra você, e te ajude nesse processo de criar a partir das ideias e expectativas de uma pessoa totalmente desconhecida 🙂
Se você já trabalha com ilustração por encomenda, me conta aqui nos comentários como você organiza seu processo? Vamos trocar figurinhas! 🙂
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Links úteis:
Yari Delgado
Adorei saber mais sobre o seu processo! É encantador saber como as peças finais ganham vida ❤️
Saber do tanto de estudo e esboço que tem por trás lembra que erros que fazem parte do processo e tranquiliza a gente. (Ainda mais pra uma virginiana, isso é bem importante hahah)
Admiro bastante e tomo como grande inspiração o tanto que você pesquisa, estudo e se dedica para produzir suas ilustrações! É possível sentir o carinho e o cuidado do início ao fim!
Seu trabalho é super inspirador e maravilhoso, sou apaixonada por ele ❤️❤️❤️
Juliana
Yari, muito obrigada pela tua visita e pelo comentário tão carinhoso. ♥
Tem um vídeo do Daniel Brandão inclusive que fala sobre a importância do processo, dos erros e da caminhada no processo de aprenizagem do desenho, depois caça no YouTube. As ilustrações que a gente vê pronta têm uma série de páginas de estudos e testes por trás, muitos que inclusive deram errado, mas todos são importantes pra que a gente consiga chegar no objetivo. :~)
Lidiane
É aula de profissionalismo que chama, né?
Lindo ver tanto amor envolvido no planejamento de uma encomenda,as etapas de estudo, a cumplicidade com a cliente. Por isso sempre que vejo o bonde da cópia pela internet, digo que não adianta querer copiar o estilo de um artista, porque todo esse processo é inimitável.
Sempre bom te ver blogando e mostrando tuas lindezas, Ju! <3
Juliana
Ai, Lidy, que amor de comentário. ♥
Pois é, ultimamente tenho batido muito nessa tecla da importância de se investigar e conhecer o próprio processo criativo; pode ser um caminho possível pra solucionar esse problema da “””””inspiração””””” que a galera tem pegado dos mesmos artistas nos últimos tempos, né. Olhar um pouquinho mais pro que você tem pra oferecer pro mundo :~)